O mercado financeiro global tem experimentado um ambiente turbulento, especialmente com o recuo do bitcoin, que caiu abaixo de US$ 80 mil nesta segunda-feira (7). Esse movimento ocorre em meio ao crescente clima de aversão ao risco, alimentado pela intensificação da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. A criptomoeda chegou a atingir um de seus menores patamares desde novembro de 2024, tocando a marca de US$ 75 mil, mas logo se recuperou parcialmente, retornando à casa dos US$ 80 mil. Esse cenário de queda reflete uma preocupação maior dos investidores com a instabilidade econômica global e o impacto de políticas comerciais agressivas.
A relação entre o preço do bitcoin e o contexto macroeconômico não é novidade para os analistas financeiros, que frequentemente observam o comportamento da criptomoeda como um reflexo de fatores externos, como a política tarifária de grandes economias. No caso atual, as tensões comerciais, em especial as atitudes dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, são um dos principais motores dessa volatilidade. As ameaças de novos impostos sobre produtos chineses, caso a China não suspenda suas retaliações, têm gerado incertezas nos mercados tradicionais e, por consequência, afetado também o mercado de criptomoedas.
Apesar da pressão negativa nos mercados, alguns especialistas apontam o bitcoin como um “vencedor relativo” diante do caos nos mercados financeiros. De acordo com analistas da 22V Research, o bitcoin continua a ser visto como um ativo que, embora volátil, se destaca como uma alternativa segura em um cenário de alta inflação e taxas de juros elevadas. A sua característica descentralizada, livre das tensões geopolíticas que afetam outras classes de ativos, torna-o atraente para investidores em busca de proteção. Além disso, a tendência crescente de adoção do bitcoin no mercado global de pagamentos digitais reforça essa visão positiva, mesmo em tempos de incerteza.
Outro fator que contribui para o crescimento do bitcoin em tempos de crise é a sua natureza como uma reserva de valor. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mencionou em uma entrevista recente que o bitcoin está se consolidando como uma opção de reserva de valor, similar ao ouro. Essa percepção tem atraído não apenas investidores individuais, mas também grandes empresas que buscam proteger seus ativos em um contexto de alta volatilidade no mercado financeiro tradicional.
No entanto, o impacto das políticas tarifárias de Trump continua sendo um tema central para a economia global, e a reação dos mercados a essas decisões reflete o nervosismo generalizado. Mesmo com o dólar se fortalecendo como uma moeda de refúgio, o bitcoin tem mostrado resiliência. A sua natureza descentralizada, longe das políticas monetárias e fiscais tradicionais, lhe confere uma vantagem em tempos de incerteza econômica, algo que não pode ser ignorado por quem busca diversificação em sua carteira de investimentos.
Entretanto, nem todos os sinais são positivos para o mercado de criptomoedas. As grandes perdas de empresas como a MicroStrategy, que registrou uma perda não realizada de US$ 5,91 bilhões em bitcoin no primeiro trimestre de 2025, mostram que os riscos associados ao investimento em criptomoedas também são elevados. A volatilidade do bitcoin, aliada a um mercado financeiro global instável, pode gerar grandes prejuízos para aqueles que não estão preparados para enfrentar essas flutuações.
É importante observar que o bitcoin, apesar de ser visto como uma proteção contra a inflação e a desvalorização das moedas fiduciárias, não está imune aos riscos externos. As recentes medidas de retaliação da Comissão Europeia e as tensões contínuas entre EUA e China mostram que o mercado de criptomoedas também é suscetível aos mesmos fatores geopolíticos que afetam os mercados tradicionais. O impacto dessas políticas comerciais no preço do bitcoin pode ser significativo, especialmente se houver uma escalada ainda maior no conflito econômico global.
Por fim, o futuro do bitcoin depende, em grande parte, de como o cenário econômico global evoluirá nos próximos meses. Se a guerra comercial continuar a se intensificar e os mercados tradicionais permanecerem voláteis, o bitcoin pode se consolidar como uma reserva de valor preferencial. No entanto, se as tensões diminuírem e os mercados se estabilizarem, a criptomoeda pode enfrentar um período de retração, como já vimos em outras fases de incerteza. De qualquer forma, o bitcoin segue sendo um ativo de alto risco, mas com grande potencial de valorização para os investidores que souberem navegar por suas flutuações.
Autor: Anton Smirnov